Inveja: Rivalidades e Sabotagem Interna

Ambiente Corporativo

Se a ganância busca possuir tudo, a inveja é o vício de ressentir o sucesso alheio. No ambiente corporativo, a inveja manifesta-se na forma de rivalidades ocultas, de ciúmes tolos, de fofocas maliciosas, de boicotes (expressos ou velados) e até em inesperadas traições entre colegas ou sócios. É aquela pequenez de caráter e de conduta, causticante, muitas vezes ou quase sempre desenvolvida às sombras, as penumbras das vistas. Tal qual o espectro maligno, este sentimento ou esse vício, melhor nominado, constrói e aprofunda seus alicerces em terras que se demonstrem férteis a tanto e crava suas garras nas carnes de seus vitimados.

Pecado capital

É um pecado contra o amor ao próximo, pois nasce da tristeza causada pelo bem do outro. Este sentimento está ligado à rainha dos pecados, a subordinante, no caso, a SOBERBA, pois quem é invejoso sente que merece mais que o outro. É classificada como pecado capital porque gera outros pecados, como odiar o próximo, falar mal (detratação), alegrar-se com a desgraça alheia (schadenfreude), entristecer-se com o bem do outro e induzir o outro ao mal.

São Tomás ensina que a inveja é mais grave quando voltada às coisas espirituais (ex: invejar a virtude, o prestígio moral, a sabedoria). Isso porque essas são mais nobres que os bens materiais, e por isso a inveja que as atinge corrompe diretamente a ordem do amor. Porém, estas se refletem diretamente também nos bens materiais.

A inveja se opõe diretamente à caridade (amor cristão), que se alegra com o bem do outro. Portanto, o invejoso está em contradição com a vida cristã e com a perfeição evangélica. “É próprio da inveja se entristecer com o bem do outro, por se lhe afigurar que a glória ou bem do próximo é o seu rebaixamento.”
(STh II-II, q.36, a.1, ad 3)

Diferente de uma ambição saudável (querer conquistar algo pelo próprio mérito), a inveja é mesquinha: A inveja não é querer o que o outro tem, é querer que o outro não tenha. “A inveja é a tristeza pelo bem alheio, enquanto percebido como um obstáculo à própria excelência.” (Suma Teológica, II-II, q. 36, a. 1)

Ou seja, a inveja não é apenas desejar o que o outro tem, mas se entristecer pelo fato de o outro possuir algo bom, principalmente quando isso é visto como uma diminuição do próprio valor. Por isso, ela nunca é “positiva” – a inveja é sempre destrutiva, ressalta o autor: “Ela não soma, não multiplica ou divide. Ela sempre subtrai”. Em outras palavras, o invejoso prefere ver o colega fracassar a esforçar-se para triunfar junto.

Impactos negativos da inveja

No dia a dia das empresas, esse sentimento venenoso corrói a cooperação. Empregados ou sócios invejosos podem minar projetos de colegas, espalhar desinformação ou sabotar decisões que beneficiem alguém de quem tenham ciúmes. Há casos de parceiros de negócio que rompem sociedades promissoras porque um não suportava o reconhecimento que o outro recebia. Assim como na tragédia de Caim e Abel, a inveja corporativa leva à destruição mútua: “Quando tentamos impedir que outro tenha sucesso, colocamos a empresa em risco” (Os 9 pecados no trabalho, da ganância à preguiça | Exame). Essa frase contundente lembra que o prejudicado final não é só o alvo da inveja, mas toda a organização, que perde com a queda de produtividade, clima hostil e fuga de talentos.

Legislação trabalhista: NR1

Estudos de comportamento organizacional equiparam a inveja a uma doença que deteriora a saúde mental e profissional – empregados consumidos por inveja perdem o foco no trabalho, gastando energia em tramas e comparações infindáveis, o que reduz sua produtividade e comprometimento. A atual legislação trabalhista, em especial, a disposta a NR1, preocupou-se exatamente com isso.

Qual o papel dos líderes?

No contexto empresarial moderno, a inveja fere princípios éticos de meritocracia e coleguismo. Em vez de celebrar e aprender com o sucesso alheio, o invejoso adota uma mentalidade de escassez – acredita que o brilho do outro ofusca o seu. Essa perspectiva míope cria uma cultura de competição predatória, na qual colegas torcem pelo tropeço uns dos outros em vez de unirem forças. Com o tempo, projetos emperram, informações deixam de ser compartilhadas e instala-se um clima de desconfiança generalizada. Líderes sábios precisam detectar e lidar com sinais de inveja em suas equipes, promovendo transparência, reconhecimento justo e espírito de equipe. Somente um ambiente onde as conquistas sejam celebradas coletivamente – e não motivos de rancor – pode neutralizar a inveja. Como antídoto, empresas de sucesso costumam incentivar a “competição saudável” voltada ao mercado externo, enquanto fomentam a cooperação interna, deixando claro que o crescimento de um contribui para o de todos. Afinal, dentro de uma mesma organização, não deveria haver inimigos, muito menos entre sócios.

Semelhanças entre sociedade empresária e sociedade conjugal

É muito comum a comparação entre uma sociedade empresária e uma sociedade conjugal, porém, a empresária é sob diversos aspectos, muitíssimo mais complexa e difícil.

Na sociedade matrimonial, o principal vínculo é o afetivo, ou seja, objetiva-se a comunhão de almas e o caminhar harmônico por toda uma vida, preferencialmente. De outro lado, a sociedade empresária, visa e objetiva fins e propósitos econômicos, ainda que estes devam obedecer a critérios de ética, legalidade e, em alguns modelos societários, o Affectio Societatis.

Enquanto na sociedade conjugal é hábito recorrente o esgotamento das etapas de conhecimento (namoro, noivado para, após estas etapas, almejar-se o firme compromisso – casamento), nas sociedades empresariais isso não costuma ocorrer.

Normalmente, os futuros sócios se declaram satisfeitos com mínimos conhecimentos, técnicos ou comportamentais.

O que fazer antes de associar-se a uma empresa?

Desta forma, providencia quase nunca pensada, mas, ao nosso ver, de extrema importância, é que um empresário, antes de associar-se a outro, sirva-se de ferramentas para identificar as características psicológicas e comportamentais da pessoa com quem pretende associar-se. Isso pode prevenir uma série de problema se de transtornos em sua futura vida empresarial.

*Por Marcelo Sartori

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